Mistureba

Em tempos de coronavírus, trabalhar de casa surgiu como uma solução para muitos.

Aqui na LBM, mais de 60% da nossa equipe já trabalha remotamente há alguns anos. Nossas comunicações diárias, entre reuniões e discussões de projetos, incluem notas anedotais sobre o que nossos bichinhos de estimação andam aprontando enquanto tentamos nos concentrar no trabalho.

No post de hoje, nossa tradutora e coordenadora de projetos Paula Barreto descreve com detalhes como é a rotina trabalhando com três gatinhas em casa. Façam suas apostas: os bichanos mais ajudam ou atrapalham?

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Você acorda com os miados incessantes e cheios de drama abafados pela porta fechada do quarto. Pela força e intensidade dos miados, você sabe que as gatas estão clamando por comida – como se não comessem há três dias, e não há apenas algumas horas. Você pensa que, bem, elas têm que trabalhar essa ansiedade delas.

Você segue com seu ritual matinal de escovar os dentes, lavar o rosto etc, até estar pronta para receber uma enxurrada de pelos na cara. Não dá outra: é só abrir a porta que as três entram disparadas no quarto, feito foguete, e sobem na cama. Dali, ficam te olhando e miando, como se dissessem: “Qual é, ser humano? Cadê o rango? Quer matar a gente de fome?” Porque sim, gatos são muito dramáticos. Se houvesse um prêmio no reino animal para o bicho mais dramático, os gatos levariam essa mole, mole.

Dia 1 no diário de um gato: “Logo de cara, a humana tentou me matar de fome, mas eu sobrevivi.”

Bom, você sai do quarto, e no caminho até a cozinha, onde ficam os famigerados potinhos de ração, você mal consegue andar – são três gatas desesperadas por comida se embolando no meio das suas pernas. Cada passo precisa ser minimamente calculado para que não se pise num rabinho e – terror dos terrores – se ouça um miadinho de dor. Quem não tem bichinho jamais saberá a dor que é pisar sem querer nele! Você se sente o pior ser humano da Terra, um Hitler reencarnado, o próprio Pennywise em forma humana.

Uma boa organização envolve a adequada distribuição de gatos.

Quando sua missão de colocar ração fresquinha no potinho é bem-sucedida, você finalmente pode começar seu dia de trabalho. Trabalhar de casa com gatos é assim: você trabalha 20 minutos, para para deitar um pouco com a gatinha; trabalha mais 30 minutos, vai fazer um carinho na gatinha deitada no tapete (no sofá não pode!)… Trabalha, faz carinho, trabalha mais um pouco, faz carinho. Às vezes, se a gatinha é grudadinha com você, ela deita perto do seu laptop para te fazer companhia. Bem, isso se você for sortudo, porque se não for, a gata vai deitar… bem, em cima do laptop ou então em cima do mouse. E você que lute para digitar, usar o mouse e enxergar a tela sem incomodar o pobre do bichinho que tem uma vida muito dura de tirar vários cochilos por dia. Mas não tem sensação tão boa quanto trabalhar olhando para a sua gatinha enroladinha feito rocambole perto de você, dormindo feito um anjinho (quando acorda tá mais para anjo caído, tipo Lúcifer mesmo). Como mães de recém-nascidos, você aprecia profundamente toda aquela calma e tranquilidade, porque sabe que vai durar pouco, e quando o bicho acordar…Caos! Destruição! Apocalipse!

Eis que chega sua hora de almoço. Cada gatinha está em um cômodo diferente da casa, mas é só sentir o cheirinho da comida que as três vêm correndo e se postam diante de você, fazendo a maior carinha de gatinho do Shrek e passando toda inocência do mundo com o olhar. “Mas eu já como tão pouquinho no almoço…”, você pensa. Problema é seu! Não tem como ignorar os olhares pidões e os beicinhos sendo lambidos. Você se sente moralmente obrigada a dar um pedacinho do seu frango para cada uma das gatinhas. E pronto, agora é só terminar o almoço encarando diretamente a parede, sem olhar para baixo, sem fazer contato visual. E quando a sobremesa é iogurte? As gatas ficam loucas, ensandecidas. Chegam a cair na porrada por uma mísera gotinha de iogurte grego. Quando você larga o potinho vazio para elas lamberem, é praticamente uma luta de UFC entre as três.

“Que prato gostoso você preparou pra mim, mamain.”

Passado o almoço, você volta a trabalhar e tudo se repete. Às vezes as gatas estão correndo para lá e para cá feito loucas e você fica só ouvindo o barulho e se encolhendo, torcendo para não quebrarem nada (o que nem sempre funciona.). Às vezes elas pulam no seu colo e ficam ali deitadinhas no quentinho da sua coxa enquanto você trabalha, e esses momentos são como estar no paraíso (brega, eu sei, mas totalmente verdadeiro.). Às vezes, quando o dia está muito cheio e cansativo, você para por cinco minutos e deita na cama com as três, se tiver sorte de elas estarem coexistindo em paz por alguns minutos. E sempre com a certeza de que trabalhar de casa seria muito mais solitário sem suas fiéis companheiras.

Fazer home office é muito bom, mas como tudo na vida, também tem suas desvantagens. Você se sente sozinho, sem ter com quem conversar, sem ver o rosto de outra pessoa, sem interagir pessoalmente com ninguém. Tem dias em que você arruma qualquer desculpa para ir na rua e trocar um mísero “boa tarde” com quem quer que seja. Não é fácil, mas ter esses bichinhos ao seu lado torna tudo muito mais fácil e divertido. Ter três seres puros e inocentes (menos o tal anjo caído que já mencionei acima) a quem dar um pouco de amor, atenção e carinho sem dúvida é a melhor parte de trabalhar de casa – e você não trocaria isso por nada no mundo.

<3

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Pra quem quiser acompanhar as aventuras das gatinhas da Paula durante as horas vagas, sigam @mybooksandcats no Insta!

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Ligia Sobral Fragano

Tradutora e revisora de legendas para cinema há mais de 15 anos. Leitora de livros e todo tipo de porcaria da internet, mas sobretudo de legendas. Viajante (em todos os sentidos). Gestora de TAV e pós-produção. Sócia-fundadora da LBM, seu projeto de vida, com o maior orgulho do mundo.

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